quinta-feira, 18 de junho de 2020

Sobre a beleza de Deus: Newton e Chesterton

A beleza de Deus na uniformidade

“Será porventura por acaso que todos os pássaros, animais selvagens e seres humanos têm o lado direito e o esquerdo moldados em formato semelhante (exceto em suas entranhas), e apenas dois olhos e não mais num e noutro lados da face, e apenas dois ouvidos num e noutro lados da cabeça, e um nariz com dois orifícios e não mais entre os olhos, e uma boca sob o nariz, e duas pernas saindo dos quadris, uma de cada lado, e não mais? De onde provém essa uniformidade em todas as suas formas externas, senão da deliberação e da invenção de um autor?” (Newton: textos, antecedentes, comentários. Escolhidos e organizados por Bernard Cohen e Richard S. Westfall. Ed. UERJ. Contraponto: Rio de Janeiro, 2002. p. 417).
Isaac Newton (1642-1727)

A beleza de Deus na surpresa

“Suponhamos que alguma criatura matemática proveniente da lua examinasse o corpo humano; ela imediatamente veria que o fato essencial nesse caso é que o corpo é duplicado. Um homem contém dois homens: um à direita que se parece exatamente com outro à esquerda. Depois de notar que há um braço do lado direito e outro do lado esquerdo, uma perna à direita e outra à esquerda, ela poderia ir adiante e ainda encontrar de cada lado o mesmo número de dedos nas mãos, o mesmo número de dedos nos pés, olhos geminados, orelhas geminadas, narinas geminadas e até lobos do cérebro geminados. No mínimo ela tomaria o fato como lei; e depois, quando encontrasse um coração de um lado, ela deduziria a presença de outro coração do outro lado. E exatamente nesse momento, no ponto em que se sentisse mais segura de estar certa, ela estaria errada.
É esse silencioso desvio milimétrico da precisão que constitui o elemento misterioso presente em tudo. Parece uma espécie de traição secreta do universo. […] Em todas as coisas, em toda parte, existe o elemento do misterioso e do incalculável. Ele foge aos racionalistas, mas só escapa no último momento. Da grande curvatura da Terra alguém poderia facilmente inferir que cada centímetro dela apresentasse a mesma curva. Pareceria racional que, assim como um ser humano tem um cérebro de ambos os lados, ele devesse ter um coração dos dois lados. Todavia, os cientistas ainda estão organizando expedições para descobrir o Polo Norte, porque eles gostam tanto de paisagens planas. Os cientistas estão organizando expedições para descobrir o coração do ser humano; e quando tentam descobri-lo, geralmente procuram do lado errado.
[…] Se o nosso matemático da lua visse dois braços e duas orelhas, ele poderia deduzir as duas omoplatas e as duas metades do cérebro. Mas se ele adivinhasse que o coração do homem estava no lugar certo, então eu deveria chamá-lo de algo mais que um matemático.

ra, essa é exatamente a reivindicação que venho fazendo para o cristianismo. Não simplesmente que ele deduz verdades lógicas, mas que quando de repente se torna ilógico, ele encontrou, por assim dizer, uma verdade ilógica. Ele não apenas acerta em relação às coisas, mas também erra (se assim se pode dizer) exatamente onde as coisas saem erradas. Seu plano se adapta às irregularidades ocultas e espera o inesperado. É simples no que se refere à verdade sutil. Admite que o homem tem duas mãos, mas não admite (embora todos os modernistas lamentem o fato) a dedução óbvia de que tenha dois corações (G. K. Chesterton. Ortodoxia. Ed. Mundo Cristão: São Paulo, 2008. p. 135/137).
G. K. Chesterton (1874-1936)

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