quarta-feira, 22 de abril de 2020

TEMPLOS FECHADOS E IGREJA ABERTA

Templos Fechados e Igreja Aberta
Valdeci Santos 
Com as notícias da propagação do coronavírus as autoridades governamentais têm tomado medidas cabíveis para evitar a aceleração ao pico na curva do contágio. A intenção por detrás dessas determinações é que se a curva for menos acentuada o sistema de saúde não será sobrecarregado e poderá atender melhor as vítimas da Covid-19. Nesse sentido, a população tem sido aconselhada a escapar das aglomerações e o distanciamento social se tornou uma nova norma. O isolamento é um “remédio amargo”, mas necessário nesses dias.
Colaborando para evitar grandes aglomerações, as escolas suspenderam as atividades presenciais ou anteciparam as férias dos alunos, as empresas optaram pelo trabalho de seus funcionários em home office e o comércio foi limitado às necessidades básicas. As atividades esportivas que atraíam grande número de expectadores foram canceladas e o calendário do futebol brasileiro sofreu alterações. Também, as igrejas tiveram que alterar a dinâmica de suas reuniões públicas, pois os templos foram fechados ao público maior. A adaptação a essa nova realidade tem sido muito difícil para todos, pois nossa geração e cultura nunca experimentaram algo semelhante.
O distanciamento social é penoso para todos, mas especialmente para os cristãos que são biblicamente exortados a se congregarem regularmente (cf. Hb 10.25). No entanto, os cristãos também são exortados a andarem prudentemente, “não como néscios, e sim como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus” (Ef 5.15-16). Nesses tempos de “dias maus”, especialmente considerando a velocidade da propagação do coronavírus, o isolamento social é necessário para proteção pessoal e preservação de vidas, inclusive de muitos da família cristã.
Mas o fato de haver templos fechados não significa que as igrejas estejam inativas. Na verdade, alguns templos estão fechados, mas os líderes das igrejas estão cada vez mais abertos à novas ideias em prol da edificação de seus membros. Diante do desafio de continuar cuidando das ovelhas, os pastores do rebanho buscam sabedoria, criatividade e o emprego de instrumentos adequados para o pastoreio à distância. A atenção pastoral não deve ser interrompida, mesmo num contexto de isolamento social.
É sabido que os pastores são responsáveis por equipar os santos com vistas ao “desempenho do seu serviço, para edificação do corpo de Cristo” (Ef 4.12). Mas como fazer isso quando as ovelhas se encontram dispersas, cada família em sua casa, impossibilitados de se locomoverem para, em culto público, receberem o alimento e a instrução? Certamente a tecnologia é uma ferramenta fundamental nesse sentido e as redes sociais podem ser empregadas de maneira positiva. No entanto, alguns cuidados práticos em relação ao cuidado pastoral devem ser tomados em qualquer contexto, inclusive no pastoreio à distância. Alguns desses cuidados são relacionados abaixo.

  1. Seja proativo. Diferente do que alguns pensam, esse não é um período para cruzar os braços e esperar o “tempo passar”. Alguns serão tentados a buscar um ambiente de refúgio, zelando apenas por si mesmos e sua família, aguardando somente que a tempestade se acalme. A pessoa proativa, porém, interpretará esses dias como uma “época repleta de oportunidades”. Por exemplo, o isolamento social obriga famílias a estarem mais unidas, o que pode contribuir para a redescoberta do culto doméstico, o estudo familiar das Escrituras e o uso outrora esquecido dos catecismos cristãos. Pastores podem apresentar orientações bíblicas e práticas sobre esses importantes exercícios a fim de que suas ovelhas continuem se alimentando da Palavra, mesmo quando impedidos de se reunirem regularmente. O pastor proativo se empenha por alcançar suas ovelhas, ainda que virtualmente.

  1. Seja criativo. Muitas igrejas que suspenderam suas atividades regulares recorreram à transmissão de mensagens online. Além do mais, alguns pequenos grupos podem continuar via reuniões virtuais. Inúmeros programas disponíveis na internet favorecem a realização desses encontros, o que faz com que o discipulado continue a ser praticado. Todavia, o que mais pode ser feito?
O contexto atual conclama líderes da igreja a usarem criatividade no pastoreio de suas ovelhas. Nesse sentido, algumas pessoas têm usado o Facebook para disponibilizar material que ajuda os pais na instrução bíblica de seus filhos, especialmente pelo fato de os filhos estarem em casa e terem tanto tempo livre. Outros pastores usam o Facebook para oferecerem devocionais diárias às suas ovelhas no momento do almoço, quando toda família pode ler a devocional reunida ao redor da mesa. Esses dias de intensa ansiedade requerem criatividade dos pastores, pois os crentes necessitam mais do encorajamento das Escrituras e precisamos ser criativos no cuidado com nossas ovelhas.
  
  1. Seja consistente. Antes de anunciar à igreja algum novo programa ou ideia, é melhor calcular os custos, pois a instabilidade pode ser danosa a qualquer expressão ministerial, real ou virtual. Logo, ao anunciar alguma nova medida é melhor ter certeza de que conseguirá levar a cabo o planejado, pois a inconsistência poderá desmotivar algumas pessoas. O melhor é começar com “poucas inovações”, mas ser consistente em cada atividade proposta.
A atitude consistente deve ocorrer não apenas em termos da frequência em relação à atividade proposta, mas também no tocante ao tempo da programação. Ou seja, se os membros da igreja tiverem a garantia de que a programação online terá sempre a mesma quantidade de tempo, será mais fácil para eles organizarem suas agendas a fim de participarem. Também, é necessário considerar a consistência em relação ao conteúdo. Ninguém gosta de parar suas atividades diárias apenas para um “bate-papo” sem propósito ou substância. Logo, esse aspecto também deve ser considerado.

  1. Seja relevante. Quanto mais tempo essa crise durar, o provável é que mais pessoas perderão empregos, ficarão ansiosas e amedrontadas ante a nova doença e confusas quanto ao que fazer. Além do mais, o isolamento pode ser interessante na primeira semana, mas terrivelmente angustiante com o passar do tempo. Nem todos os membros da igreja tomarão a iniciativa de procurar o pastor ou algum outro líder da igreja nesses momentos. Para evitar esse quadro de angústia, é necessário que a mensagem transmitida pela liderança da igreja sempre seja relevante e procure falar aos corações nesses tempos difíceis.
Nesse contexto, ser relevante talvez inclua a necessidade de uma conversa sobre a situação financeira de alguns, o relacionamento familiar de outros e assim por diante. Em outras palavras, cada interação deve ter o propósito de ministrar a alguém aquilo que, de fato, edificará a pessoa. Mais uma vez é importante lembrar as palavras de Paulo: “Não saia da vossa boca [nem dos dedos, na digitação] nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem” (Ef 4.29).

  1. Seja estratégico. Cada interação com os membros de sua igreja deve ser realizada “cirurgicamente”, ou seja, usando corretamente o tempo dedicado a isso. Nesse sentido, uma boa estratégia a ser seguida envolve:
  1. Procure saber como todos da família estão passando.
  2. Pergunte se a família possui alguma necessidade específica que a igreja possa ajudar.
  3. Apresente informações atualizadas sobre como a igreja tem enfrentado essa crise e quais membros necessitam mais de oração.
  4. Leia alguma passagem da Bíblia com a pessoa com quem você está interagindo.
  5. Dedique alguns minutos em oração uns pelos outros.
  6. Reafirme o amor e cuidado da liderança da igreja pelos seus membros, especialmente pela família da pessoa com a qual você está interagindo.
Quanto mais o tempo de isolamento e distanciamento social prolongar, tanto mais os líderes da igreja deverão cuidar para realizar esses contatos mais frequentemente. Como a situação ainda está confusa para todos, é importante rever algumas estratégias continuamente.

 Enfim, pastorear virtualmente é algo novo e desafiador para todos os líderes da igreja. Isso nem parece, de fato, pastoreio, para alguns. Na situação que atravessamos, porém, essa é uma medida viável. Todos devemos ser sábios e aproveitar as oportunidades e ferramentas disponíveis no momento e, nesse contexto de isolamento social, as alternativas não nos deixam com muitas escolhas. O ideal é que em cada interação que tiver com suas ovelhas o pastor as exorte a orar, confiando na graça e provisão do Senhor Deus que nos sustenta.
FONTE: ipb.org.br 

O QUE DEUS NOS ENSINA POR MEIO DE UM VÍRUS?

O que Deus nos ensina por meio de um vírus?
 Rev. Valdeci Santos 
Vivemos um período sem precedentes para nossa geração. Nenhum de nós, nem mesmo os mais experientes, vivenciou uma pandemia e o que é sabido sobre épocas de calamidades nos chega por testemunhos históricos e experiências secundárias. Mas o surgimento do Coronavírus mudou essa realidade. A ameaça invisível transformou o modus vivendi da humanidade de maneira significativa. Atualmente, o distanciamento social se tornou a norma, pois algumas pessoas podem estar infectadas e não apresentar qualquer sintoma, enquanto em outros, os indícios são tão graves que podem levar à morte. Assim, o afastamento se tornou uma expressão de amor e cuidado, quando há apenas alguns dias, ele seria considerado manifestação de indiferença.
O vírus mexeu com nossos ídolos e jogou por terra algumas de nossas “vacas sagradas”. Isso fica claro ao considerar os efeitos da pandemia sobre três principais objetos da adoração popular: o esporte, o entretenimento e a prosperidade. O avanço do Coronavírus resultou na paralização de competições esportivas, inclusive na prorrogação dos jogos olímpicos. Não se ouve mais notícias sobre brigas de torcidas de times de futebol e nem se ouve mais discussões sobre o “time do coração”. O interesse pela preservação da vida parece ter superado a paixão de alguns torcedores. As pessoas também necessitaram suspender algumas atividades comuns de entretenimento. Não se observa ajuntamentos nos bares, não há convocações de pancadões e até as praias estão isoladas. Algumas pessoas que se aventuraram em cruzeiros, acabaram vivendo pesadelos, quando seus navios foram proibidos de atracar em portos por suspeita de contaminação de membros da tripulação ou dos passageiros. Ademais, os estragos econômicos têm arruinado a esperança de muitos em relação à prosperidade. As previsões sobre a economia mundial não são nada otimistas. Algumas pessoas já perdem empregos, empresários perdem o sono e as bolsas financeiras perdem investidores a cada segundo. De fato, vários ídolos da humanidade foram destronados pelo avanço de um vírus.
O Coronavírus se originou na China, mas ele não se restringe a fronteiras nacionais. Ao contrário, ele se adapta muito bem em qualquer país e qualquer continente. Ele também não faz acepção de pessoas e atinge tanto ricos quanto pobres e, embora os idosos estejam no grupo de risco, há casos de jovens que também tiveram a vida ceifada por ele. Até o momento, nenhum medicamento parece ser totalmente eficaz para deter os seus avanços e não ainda não há vacina contra ele.
Diante desse cenário, algumas pessoas honestamente questionam se essa pandemia é um juízo divino sobre a humanidade. Alguns até se lembram de passagens do livro do Apocalipse que descrevem pragas e doenças que ceifarão a vida de grande porcentagem da humanidade (cf. Ap 6.7-8 e 9.13-21). É claro que cada sentença de morte no universo aponta para o dia no qual todo ser humano comparecerá diante do Supremo Juiz para a sentença final, mas esse vírus ainda não é a revelação do Juízo Final. Em certo sentido, o surgimento desse vírus e sua letalidade é um sinal de Deus de que há algo errado com o mundo em que vivemos. Esse é um mundo caído, em rebelião contra Deus, e as consequências da queda estão sobre todos seres viventes. Todavia, esse “inimigo invisível” também pode ser um instrumento pedagógico de Deus para os seres humanos, especialmente aqueles que têm ouvidos atentos para atender a essas instruções.
Quais poderiam ser, portanto, os ensinamentos do Senhor por meio de um vírus tão amedrontador? Há, no mínimo, quatro lições que, cuidadosa e reverentemente, sugerimos serem consideradas a esse respeito. Procurarei elaborar resumidamente cada uma delas logo abaixo.
  1. A fragilidade da vida humana. O Coronavírus é considerado de baixa letalidade, mas já provocou muitas mortes nos cinco continentes. Diante desse desafio a humanidade tem percebido como a vida humana é frágil e como os riscos de morte são numerosos nesse universo. Há poucos dias muitos viviam como se fossem intocáveis e agora se refugiam em casa, amedrontados pelos efeitos da pandemia.
Mas Deus sempre ensinou na Bíblia que a vida humana é frágil. Há um texto na epístola de Tiago que trata claramente sobre isso. Nele o apóstolo pergunta e responde: “Que é a vossa vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por instante e logo se dissipa” (Tg 4.14). A metáfora da neblina comunica com clareza a realidade de que a vida humana é frágil e nos últimos dias, o Coronavírus parece instrumental para nos lembrar dessa realidade.

  1. A falibilidade dos planejamentos humanos. Ninguém conseguiu, de maneira eficaz, prever o surgimento, avanço e efeitos devastadores do Coronavírus. Tudo aconteceu tão rápido que parece ter tomado a humanidade de surpresa. O pior é que hoje, vivendo sob os efeitos da pandemia, também não conseguimos planejar o futuro, pois nem sabemos ao certo como viver o presente. Não se sabe ao certo quando tudo acabará e quando tudo voltará ao normal. O problema é que o normal nunca mais será aquele que conhecíamos, pois, a pandemia já mudou muitas coisas.
As limitações humanas convergem para a falibilidade de seus projetos. Nenhuma previsão é infalível e nenhum projeto cobre todas as variáveis. De fato, nossos planejamentos não são garantia de sucesso pleno e Deus nos lembra isso por meio do surgimento desse vírus.

  1. A importância dos relacionamentos. No estado de isolamento social, sem poder correr de um lado para o outro, sem poder se distrair com a sensação de estar muito atarefado com outras coisas, várias pessoas tiveram que repensar o que, de fato, é importante nessa vida. O medo de perder entes queridos, não poder realizar sequer um ofício fúnebre para alguns que foram vitimados pela Covid 19, fez com que alguns repensassem seus relacionamentos. Para as famílias que gozam de bom relacionamento, o isolamento social permite que elas tenham mais tempo para realizarem atividades afins. No entanto, para aqueles cujos relacionamentos eram fragilizados, o isolamento mais parece um inferno. Nesses momentos, a avaliação quanto ao cultivo de relacionamentos profundos e benéficos é sempre bem-vinda!

  1. A necessidade de uma fé genuína. Períodos e aflições acabam testando nossa fé. Ao escrever sobre isso, o apóstolo Pedro exortou seus leitores: “Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações, para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo” (1Pedro 1.6-7). É interessante que o apóstolo compare a fé ao ouro, um dos metais mais valiosos e duradouros desde a antiguidade. Porém, haverá um dia no qual o valor do ouro será relativizado, mas a fé genuína sempre será de grande valor aos olhos de Deus.
A verdadeira fé conecta o crente ao Senhor Jesus, o qual é nossa esperança (cf. 1Tm 1.1) e, por isso, mesmo em meio às aflições de uma pandemia, o crente pode caminhar esperançoso. Aquele que possui uma fé genuína não olha para o sofrimento como algo que o define, mas como um agente que refina sua fé e confiança no Senhor.

Enfim, o fato de vivermos dias difíceis não precisa ser desesperador, mas pode ser pedagógico para todos nós. Deus, em sua soberania e providência, não foi “pego de surpresa” pelo surgimento e avanço desse vírus. Na verdade, ele usa até esse inimigo invisível para ensinar algumas lições à humanidade contemporânea. Quem tem ouvidos para ouvir, deveria estar atento.

A importância da campanha de prevenção da gravidez na adolescência


Gravidez na adolescência diminui e estudo identifica os culpados ...


No Brasil, cerca de 930 adolescentes e jovens dão à luz todos os dias, totalizando mais de 434,5 mil mães adolescentes por ano. Precisamos falar sobre este tema, pois os números são alarmantes e mostram a importância de se promover uma campanha de prevenção da gravidez na adolescência.
Levantamento feito em 2017 pelo Ministério da Saúde informa que, somente em 2015, foram 546.529 os nascidos vivos de mães com idade entre 10 e 19 anos. Os dados não consideram os que morreram no parto ou mesmo os que, como se imagina, foram vítimas de abortos.
Em uma sociedade onde a erotização faz parte da linha editorial dos canais de TV, onde o sexo é banalizado e os adolescentes são incentivados a iniciar relações muito cedo, o caos é anunciado. É preciso desconstruir a máxima do sexo livre.
Devemos instruir nossos adolescentes e jovens a terem responsabilidade e se resguardarem contra decepções, doenças ou gravidez precoce. A conscientização não é apenas responsabilidade do Estado, mas também – e principalmente – dos pais.
As políticas públicas são importantes para percepção da gravidade deste tema, mas os pais precisam controlar o tipo de informação que seus filhos estão sendo expostos. Até mesmo as escolas podem promover ações que instruam a autopreservação, principalmente para as meninas.
Não, não estou sendo machista. Falo principalmente para as meninas, pois elas amadurecem mais rápido, são mais focadas que os meninos. Os meninos, porém, também devem ser informados sobre as responsabilidades e problemas que recairão sobre eles se não se cuidarem.
Em 2018, a Organização Mundial de Saúde previa a promoção de “medidas e normas que proíbam o casamento infantil e as uniões precoces antes dos 18 anos; apoiar programas de prevenção à gravidez”.
É exatamente esse o propósito da campanha da ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, juntamente com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que reafirma o slogan “Tudo tem seu tempo”.
Como reitera a campanha, as consequências físicas, emocionais e sociais para o sexo fora da hora são evidentes. Nos últimos anos as campanhas públicas contra a gravidez e as doenças sexuais na adolescência promoviam um verdadeiro chamado ao sexo precoce.
Cartilhas foram usadas para instruir sobre o uso de preservativos e do chamado “sexo seguro”, uma verdadeira campanha de erotização infanto-juvenil, mas nada era dito sobre a abstinência sexual.
Todavia, agora temos uma política pública planejada de forma responsável, que não visa incentivar o ato, mas retarda-lo para o momento oportuno. Instrui a espera e a preservação da pureza e do corpo para o momento oportuno.
Ensinar que um adolescente pode fazer sexo a vontade usando preservativo tem resultado em índices alarmantes, então não seria o momento oportuno para mudar a abordagem? É evidente que trata-se de uma política baseada em uma visão cristã, mas isso não fere a laicidade do Estado.
Cristão, advogado, esposo, escritor, discípulo e Presidente da Assembleia de Deus em Madureira.

O Sínodo de Dort [John R. de Witt]

            Por que o Sínodo de Dort aconteceu? - Cyro Ferreira - Medium
            Os cristãos, em todas as partes do mundo, estão celebrando este ano [1995] o 350º. aniversário da convocação do Sínodo de Dort. Para a maioria das pessoas o nome nem é mesmo familiar, talvez por ter alguma relação com o rio Maas e a provinciana cidade holandesa de Dort. Na mente daqueles que já o ouviram, muito freqüentemente o que restou é algo do ódio há tanto relacionado com o Sínodo, em razão das calúnias de seus inimigos. Não obstante, quando a Reforma era ainda jovem e os homens amavam ardentemente as doutrinas da graça, o nome de Dort era famoso em todo o mundo protestante. William Cunningham vai longe em dizer: “O Sínodo de Dort, representando quase todas as igrejas reformadas, e contendo uma grande proporção dos teólogos do mais alto nível, erudição e caráter, tem direito a maior medida de respeito e deferência do que qualquer outro concílio registrado na história da Igreja” [Os Reformadores e a Teologia da Reforma, p. 367]. Isto é de fato um grande elogio! Mas há muitos grandes nomes na história que em algum tempo significaram muito, mas que agora não têm nenhum significado prático. Então, alguém poderia perguntar por que deveríamos estar preocupados com uma assembléia eclesiástica esquecida pela maioria dos homens há tanto tempo, e que, à primeira vista, parece não ter qualquer significado contemporâneo?
               Em primeiro lugar o Sínodo de Dort é de peculiar interesse histórico para a Grã-Bretanha, pois – embora fosse principalmente um ajuntamento holandês – o rei James I foi, na verdade, responsável em parte por sua existência! Nos anos anteriores a 1618-19 ele somou sua forte influência a dos homens na Holanda que clamavam pela convocação de um Sínodo nacional, para pôr fim às controvérsias teológicas que estavam perturbando a paz, e mesmo pondo em risco a sobrevivência dos Paises Baixos. Ainda mais, James escolheu vigorosamente os representantes calvinistas contra os oponentes arminianos. E, quando um tal Vortius, homem justamente suspeito como de opinião sociniana [unitarino], foi indicado para susbstituir Arminius na Universidade de Leiden, após sua morte, James notificou ao Estado Geral da Holanda que retiraria seu embaixador se Vortius não fosse demitido imediatamente. O Eleitor do Palatinado era genro de James e acrescentou sua própria influência à do rei inglês no clamor por um Sínodo. Quando chegou o momento, James indicou cinco representantes para o Sínodo, todos do partido episcopal, que, juntamente com outros teólogos estrangeiros, teriam prerrogativas de participação nas deliberações do Sínodo além do direito de voto. Eram eles George Carleton, então bispo de Llandaff e posteriormente de Chichester; Joseph Hall, posterior e sucessivamente bispo de Exeter e Norwich; John Davenant, depois bispo de Salisbury; Samuel Ward, o celebrado erudito e mestre de Sidney Sussex College, Cambridge; e Walter Balcahqual, um escocês, capelão do rei e depois deão de Rochester. Hall adoeceu após alguns dias e ficou impossibilitado de dar continuidade às suas responsabilidades, mas foi substituído por Thomas Goad, capelão do arcebispo da Cantuária. É importante lembrar que estes homens não eram representantes do partido puritano da Igreja da Inglaterra. O fato de que o bispo Carleton estar preparado para participar como membro ordinário [embora respeita] de um Sínodo convocado nos moldes da reforma e presidido por um mero presbítero, diz muito sobre a posição do governo episcopal que prevalecia na Inglaterra, um aspecto que seria em breve alterado radicalmente pela influência de homens como William Laud com suas enfatuadas noções não-protestantes do direito divino do episcopado. Também é significativo que todos estes ingleses, um prelado e dois futuros prelados assinaram os Cânones do Sínodo de Dort. Era de se esperar tal profissão de calvinismo dos herdeiros de Cartwright e Perkins; todos sabem que eles faziam coro com seus companheiros do continente. Mas aqueles clérigos, insuspeitos de puritanismo, são prova suficiente de que o calvinismo continuava a ser a teologia predominante na Igreja da Inglaterra durante o reinado de James I. Foi apenas sob o domínio de seu filho Charles I que começou a triste decadência no fervor, e que mais tarde trouxe conseqüências trágicas.
             O Sínodo de Dort é também de grande importância por razões religiosas. “A controvérsia arminiana”, escreveu Philip Schaff, “é a mais importante que ocorreu dentro da Igreja Reformada”. Pode-se acrescentar que o sínodo que pôs fim à controvérsia, definiu claramente assuntos que sempre perturbaram a Igreja e continuam a perturbá-la ainda hoje. Para entender-se o que ocorreu nos Paises Baixos, nas duas primeiras décadas do século dezessete, é necessário retroceder até o próprio Arminius e à origem da luta associada ao seu nome. James Arminius [latinizado de Jacob Hermanson] nasceu em 1560 e estudou em Leiden e Genebra na gestão de Teodoro Beza, sucessor de Calvino. Em 1588 tornou-se um dos ministros de Amsterdam, onde realmente começou o problema por causa da sua pregação relacionada particularmente com a exposição de Romanos 7. Os homens suspeitaram que ele estava saindo da confissão reformada, e houve considerável agitação na cidade por causa disso. Em 1603 foi indicado como professor de teologia em Leiden, em substituição ao célebre Franciscus Gomarus, um dos grandes teólogos da época, e assim ficou claro que Arminius tinha sérias objeções contra a doutrina da Igreja. Entretanto, agora, como antes em Amsterdam, mesmo tendo jurado não contradizer em seus ensinamentos a Confissão e aderir completamente a ela em suas lições públicas, dava, todavia, instrução em particular a certos estudantes selecionados, falando mais livremente de suas insatisfações e dúvidas. Seu sucesso em fazer prevalecer sobre os jovens seu próprio ponto de vista cedo tornou-se evidente quando estes se apresentaram ao exame dos Presbitérios para admissão no ministério.
Arminius morreu em 1609 em meio à controvérsia, mas seu manto logo foi tomado por Johannes Uytenbogaert, o pregador da corte, e Simon Episcopus, seu sucessor na universidade. Sob a liderança deles os arminianos, em 1610, prepararam uma representação (Remonstrance) [desde então passaram a ser chamados de os remonstrantes] na qual em princípio rejeitavam certas posições defendidas pelos calvinistas. Esta representação era formulada de tal maneira que oferecia mais uma caricatura do que uma representação correta da doutrina reformada; e prosseguiam asseverando em cinco posições [os cinco artigos do arminianismo] seus próprios pontos de vista; i.é, eleição condicional à presciência da fé; expiação universal [que Cristo “morreu por todos e por cada um, de forma que ele concedeu reconciliação e perdão de pecados a todos através da morte na cruz”]; a necessidade de regeneração para que o homem seja salvo [mas, como apareceu mais tarde, entendido de tal maneira que subestimava seriamente a depravação da natureza humana]; a resistibilidade da graça [“mas quanto ao modo desta graça, ela não é irresistível”]; e a incerteza da perseverança dos crentes. Os calvinistas responderam com a contra-remonstrance [desde então o nome contra-remonstrantes] com sete artigos reafirmando o ensinamento das confissões reformadas com respeito à doutrina da graça. A conferência teve lugar em Hague em 1611, mas não chegou a nenhuma acordo.
               Os anos seguintes testemunharam a exacerbação da controvérsia, que agora se espalhava velozmente pelo país e era marcada pela demanda crescente, da parte dos calvinistas, da convocação de um sínodo geral para pôr fim à disputa. Embora a Constituição da Igreja determinasse um Sínodo, no mínimo a cada três anos, nenhum havia sido permitido desde 1586. John Van Olden Barneveldt, Grande Pensionário da Holanda e o grande homem do momento, apoiava os arminianos e era de posicionamento erastiano quanto à relação entre Igreja e o Estado. Em seu ponto de vista e dos remonstrantes, que derivavam suas forças de autoridades políticas, o magistrado civil exercia autoridade em assuntos eclesiásticos. O príncipe Mauricio, filho de William, o Taciturno, e stadtholder hereditário, permaneceu neutro até 1616, quando começou abertamente a tomar o partido dos calvinistas e, nos idos do verão de 1617, estava participando publicamente do culto com a congregação reformada da capital. No mesmo ano, executou um bem sucedido golpe de estado contra Barneveldt e determinou, finalmente, a convocação de um sínodo da igreja holandesa. Este entretanto foi um sínodo único na história do protestantismo pois, pela pressão de James I, teólogos estrangeiros foram convidados a participar. Convites foram enviados para todas as igrejas reformadas da Europa, e realmente vieram delegados da Inglaterra, do Palatinado, Hesse, Zurich, Berne, Basel, Schaffhausen, Genebra, Bremen e Emden. A França não se fez representar. Os representantes designados, Pierre du Moulin e André Rivet, dois dos teólogos mais célebres da época, foram proibidos de deixar o país pelo rei da França. Mas assim mesmo, a Igreja reformada francesa aprovou os Cânones de Dort e fê-los obrigatórios aos seus ministros em dois sínodos gerais separados em 1620 e também em 1623. Nem a Escócia foi incluída – muito estranho, desde que a igreja de John Knox pertencia ao grupo reformado internacional. Mas, deve-se lembrar que o mesmo rei que indicou os episcopais ingleses que participaram do Sínodo de Dort, estava, nestes mesmos anos, engajado em submeter a igreja do norte, do seu reino, a um jugo hierárquico completamente desprezível e indesejável; por isso a igreja escocesa não ficou livre para participar.
Foi uma extraordinária assembléia. Um antigo escritor disse dela o seguinte: “os membros deste sínodo formavam uma constelação dos melhores e mais eruditos teólogos que já se congregaram num concílio desde a dispersão dos apóstolos; salvo se excetuarmos a convocação imperial de Nicéia no quarto século” [Biographia Evangélica II, p. 456]. O concílio incluía 56 ministros e presbíteros regentes das igrejas holandesas, 5 professores de teologia e 26 teólogos estrangeiros, além de 18 comissários políticos [não-membros do sínodo] que iriam supervisionar o processo e dar informações ao Estado Geral. Para se avaliar o peso da assembléia, basta citarem-se alguns nomes. Gomarus estava lá, sucessivamente professor em Leiden, Saumur e agora em Groningen; Lubbertus, de Franeker; Bogerman, o grande ministro de Leeuwaarden que estudou em diversas universidades continentais e então em Oxford e Cambridge [sob Reynolds e Perkins]; Diodati, o italiano que ensinava em Genebra; o jovem Voetius, que não havia ainda iniciado a estupenda carreira acadêmica que o faria, talvez, o mais influente teólogo da Europa; e Scultetus, Polyander, Lydius, Alting, Hommius, Triglandius, Meyer. Podia-se prosseguir referindo-se mais e mais nomes. Interessante é que o grande puritano William Ames, que por causa de seus princípios fora constrangido a fugir da Inglaterra, foi designado por Bogerman, presidente do sínodo, como seu secretário particular, para grande descontentamento dos delegados ingleses. Ames exerceria considerável influência nos bastidores.
O Sínodo começou em 13 de novembro, com culto solene em holandês na Grande Igreja e em francês naquela que fora antes a igreja dos agostinianos. Após o que, ocorreram as sessões, 154 ao todo, no Kloveniersdoelen , uma espécie de armazém arsenal que era aquecido durante todo o inverno por uma grande lareira. Mas, como proteção extra contra o frio e a umidade de que muitos se queixavam, cada delegado recebeu um stoofje , um pequeno braseiro para ser colocado sob os pés. O principal assunto em pauta era, é claro, a controvérsia arminiana, e treze dos remonstrantes foram convocados diante do Sínodo para prestarem contas de suas opiniões. Após alguma demora chegaram finalmente em 6 de dezembro, e até 14 de janeiro o Sínodo engajou-se na vã tentativa de extrair deles uma declaração clara de seus ensinamentos. Os arminianos – Episcopus à frente deles como presidente de uma espécie de contra-sínodo – utilizaram de toda engenhosidade para evitarem qualquer declaração deste tipo, exigiram que fosse seguida sua própria pauta de assuntos em lugar da do Sínodo, praticaram evasivas, táticas de retardamento e obstruções, caluniaram o Estado Geral implicando até mesmo o próprio príncipe Mauricio, e rejeitaram a autoridade do Sínodo em julgá-los; isto a despeito do fato de ser legalmente um Sínodo da Igreja em que ocupavam cargos, à qual confessavam pertencer, e a cuja disciplina estavam obrigados a se submeter em virtude de suas ordenanças e votos!
                  Após um mês de esforços infrutíferos para se prosseguir com o assunto em pauta, tempo durante o qual Bogerman, o presidente, se conduziu com tal paciência e calma contida, que alguns dos seus colegas a achavam excessiva, em face à tamanha obstinação; não houve alternativa senão despedir Episcopus e seus companheiros. Os historiadores acusam Bogerman por sua conduta no dia fatídico de 14 de janeiro, quando por um momento pareceu ter perdido o auto-controle, mas sua exasperação é compreensível. Referindo-se às distorções deliberadas, e até mesmo falsidades com que os arminianos trataram o Sínodo, ele vociferou: “Vocês estão sendo mandados embora. Vão! Começaram com mentiras e terminaram com mentiras”. E uma vez mais gritou: “Ide! Ide!”. Após este fato o trabalho prosseguiu, fazendo uso, agora, dos escritos e não dos próprios remonstrantes, e o Sínodo formulou em cinco capítulos e noventa e três artigos, os famosos Cânones de Dort, que foram assinados por todos os delegados em 23 de abril e promulgados solenemente na Grande Igreja em 6 de maio de 1619, diante de numerosa congregação. Três dias mais tarde, após seis meses de trabalho exaustivo, os teólogos estrangeiros partiram e os teólogos holandeses permaneceram para 22 sessões adicionais devotadas, em sua maioria, à preparação de uma nova liturgia e ordem eclesiásticas.
Falou-se muito sobre o “perseguidor sínodo de Dort” e houve muita distorção propositada quanto a ele. Por isso, é que na Inglaterra uma versão dos Cânones permaneceu amplamente em voga até 1804, versão esta que tinha o peculiar pedigree de ter sido produzida por um tal de Daniel Tilenus, que era na verdade um remonstrante. Esta versão que corria como uma “sinopse conveniente” era na verdade uma corrupção deliberada dos Cânones. Afirma, por exemplo, que Deus elegeu para salvação “um pequeno número de homens” e predestinou o resto para condenação “sem qualquer consideração quanto à infidelidade e impiedade deles”. Isto era simplesmente uma reprodução da caricatura arminiana original da posição calvinista na Remonstrance de 1610. Os Cânones não fazem na verdade tal afirmação quanto à pequenez do número dos eleitos, exceto para rejeitar a acusação arminiana, para efeito de conclusão, e insiste em estabelecer a conexão entre o decreto da reprovação e o fato do pecado e desobediência do homem: quanto aos preteridos, “Deus (…) decretou deixá-los na miséria comum na qual eles mesmos se precipitaram intencionalmente (…) não apenas por causa de sua descrença, mas também por todos seus outros pecados” [I.7,15].
Quanto à perseguição, deveria ser lembrado que a Igreja Holandesa estava sujeita a duas ordens confessionais: a Confissão Belga e o Catecismo de Heidelberg. Os arminianos, dessa forma, enquanto que sujeitos aos votos destas declarações da fé reformada, estavam advogando a subversão delas. E foram eles, nota bene , nos anos anteriores ao Sínodo provaram ser intolerantes com os homens, com respeito ao apoio às doutrinas da Igreja. Em muitas ocasiões ministros depostos pela Igreja por heresia eram mantidos no cargo pelos magistrados; e os ministros fiéis apoiados pela Igreja eram depostos por eles. Na verdade, os calvinistas eram privados do uso de edifícios, postos à parte, como seu próprio local de culto, e forçados a se reunirem onde quer que pudessem, e nem assim eram deixados em paz. Destarte a acusação de perseguição pôde escassamente ser feita, com justiça, pelos remonstrantes pois eles mesmos, quando podiam, se favoreciam dela. O resultado de Dort não foi a supressão de todas as religiões com exceção da reformada. Diferentemente de outros países da Europa, a Holanda já era o lar de pessoas oprimidas. Em 1609, os Pais Peregrinos tomaram o rumo de Leiden, e luteranos, anabatistas e mesmo católicos romanos eram tolerados, embora que confinados a locais privativos a seu próprio culto. É verdade que, após o Sínodo ter-se reunido, muitos pregadores que não se adequaram foram depostos. É verdade também que mesmo no Sínodo os arminianos eram tratados não como iguais – se bem que tivessem a pretensão de serem uma espécie de contra-sínodo – mas como aqueles que foram convocados para prestarem contas de si mesmos e para serem julgados. Mas isso nada tem a ver com a questão da tolerância como tal; é antes a questão de se a Igreja tem ou não o direito de obrigar sua própria confissão de fé e insistir em sua prerrogativa de privar de seus cargos os que se desviram daquela confissão e ensinavam o erro e não a verdade. A ação do Sínodo era disciplinar, voltada para membros e oficiais da Igreja que se tinham envolvido em heresias e tentaram mudar a confissão da Igreja, para ajustá-la às suas próprias opiniões. Apenas aqueles que são por si mesmos cautelosos quanto a adesão de estatutos confessionais, ou que já viveram sob perjúrio, havendo prometido uma coisa apenas para crer em outra, questionaram o direito do Sínodo de uma igreja de agir resolutamente em tais casos.
É impossível aqui aprofundarmo-nos nas questões teológicas inerentes à controvérsia arminiana. Para isso os leitores devem recorrer ao volume recentemente publicado pela Reformed Fellowship , de Grand Rapids, e editado pelo Dr. P. Y. de Jong, sob o título Crisis in the Reformed Churches (Crise nas Igrejas Reformadas), e também à magistral discussão de William Cunningham no volume II de sua Historical Theology (Teologia Histórica). A comtrovérsia dizia respeito às diferentes conceituações do homem e de Deus. Os arminianos representavam o reavivamento das doutrinas semi-pelagianas que havia tanto tempo flagelado a Igreja cristã. Embora o próprio Arminius não fosse um não-evangélico, entretanto a história subseqüente do movimento demonstra claramente que, quando a queda e suas conseqüências totais para o ser humano como um todo não é levada suficientemente a sério, e quando a salvação não é compreendida como total e completamente pela graça divina, então o resultado é inevitavelmente o racionalismo e coisa pior. Os teólogos de Dort não estavam, em primeiro lugar, preocupados com questões escolásticas não relacionadas com a vida. Para eles a controvérsia não era acadêmica em nenhum sentido. Era prática em último caso à vista deles, como na era de Atanásio, mil e duzentos anos antes em sua luta contra o arianismo, o problema principal era mesmo a salvação. Se os arminianos tivessem prevalecido e suas doutrinas introduzidas na Igreja, o resultado final seria destrutivo para a doutrina cristã da salvação. A partir dos Cânones – o caráter incondicional e gracioso da eleição; a expiação de Cristo limitada em seu desígnio e amplitude; a depravação total do homem; a graça irresistível; e a perseverança dos santos – foram todos, em resposta aos cinco artigos da remonstrance, com a intenção de estabelecer clara e inequivocamente o absoluto e gracioso caráter da salvação que “não depende de quem quer, ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia” (Rm 9.16).
Qual é então a importância atual de Dort? É tão somente esta: o erro arminiano, embora travestido sob um nome do século dezesseis, é tão antigo quanto o homem e ressurge sempre e sempre, freqüentemente sob novas formas, até mesmo com vestes evangélicas [como mesmo no caso de Arminius]. Encontra-se agora entre aqueles que, embora professem doutrina bíblica, ainda insistem na capacidade do homem de escolher a Deus por si mesmos. É também corrente, em forma muito mais radical, entre um grande número de teólogos não-ortodoxos e liberais que concentram seu raciocínio na antropologia e substituem a busca da Reforma por um Deus gracioso, pela busca de um próximo gracioso. Encontra-se onde quer que os homens não se sujeitem com humildade, obediência e fé ao Deus das Escrituras e não atribuem a Ele, não apenas a iniciativa, mas também todos os meios para o cumprimento da salvação em toda parte. A verdade fundamental que Dort levantou bem alto é a verdade na qual a Reforma na linha de Agostinho e mesmo a Palavra de Deus permanecem firmemente: Soli Deo gloria !

Fonte: Jornal Os Puritanos (Ano III – No. 2 – Março/Abril – 1995), pp. 27-30/Monergismo.com (By Editora Monergismo18 de julho de 2019)

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